quinta-feira, 12 de junho de 2014

Time to Meet the Devil

Cena do filme "Apenas Deus Perdoa" de Nicolas Winding Refn

Era uma quarta de manhã, um calor descomunal e um TCC para apresentar. Apesar de aparentar total tranquilidade, eu estava tenso e tomei uma decisão que aumentou ainda mais aquele estado, a infeliz atitude de acompanhar a apresentação de meu antecessor, cujo tema do trabalho era similar. Ao perceber a boa desenvoltura do meu veterano ao se apresentar e, mesmo assim, as severas críticas recebidas por ele, principalmente, realizadas por um tal professor, imaginei-me como seria massacrado do mesmo modo ou até pior.
Então, com o nervosismo à flor da pele, fui me apresentar. Nunca fui bom com a oratória, mas, especialmente naquele dia, estava mais apreensivo que o habitual e isso se refletia nas minhas palavras incertas.

Após o término da apresentação, sentei-me e esperei o impetuoso bombardeio, porém, para a minha parcial surpresa, as outras duas professoras que constituíam a bancada, incluindo minha orientadora, fizeram bons comentários sobre o trabalho, só ressaltando correções de formatação e posicionamento de alguns itens. 
Entretanto, havia ainda o outro professor, vulgo demônio dourado de olhos azuis, pronto para destilar sua soberba sobre todos ali. Só ele percebeu algo no trabalho que, aos olhos de alguém que possuísse bom senso, passaria totalmente sem alardes. Tanto insistiu em seu ponto de vista deveras exacerbado, que convenceu a minha indefesa orientadora de que uma boa parte da revisão bibliográfica do artigo deveria ser reescrita, apesar dela não concordar totalmente e iniciar uma ligeira discussão que logo o diabo obeso se encarregou de terminar utilizando sua ortodoxia abusiva. 
Resultado: fui aprovado, mas eu tenho muitas coisas a modificar, coisas que muito provavelmente não irei fazer por completo, até porque a maioria delas foi fruto do capricho de um inquisidor prepotente.
Agradeçam por não encarar o capeta albino, mesmo encoberto por aquela aparência de urso polar inofensivo e a voz infantil.



Escrito por Vitor Costa em 06/12/2013

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