sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O crepúsculo das ideias e a incoerência desmedida

Cena do filme "Sonhos" de Akira Kurosawa

Só palavras, não há poesia nem estradas. Aqueles lugares dos meus sonhos, nos quais a vida é simples e, de fato, tudo é simples. E por que complicar a existência? Essa necessidade insólita de controlar a vida, buscar plenitude e, se o fim é inevitável, por que fingir sentimentos, por que não fugir, sem destino, sentir o que nos completa. Aquelas árvores tão distantes, as lembranças das garotas que eu nunca amei, das festas que eu nunca fui, das pessoas que passam despercebidas pelo meu caminho e eu, pelo delas. As noites em frente ao mar, as ondas que eu nunca pulei, o mundo surgindo com o dia, e o dia escurecendo minhas lembranças. As cidades, os prédios, todo o rastro de civilização que nunca visitei e todos esses lugares me soam tão próximos. Partes subjetivas que sempre me encontram e me recordam que racionalizar é prosaico.
Instintos que invadem minha mente, o medo da solidão, o fim da civilização, o princípio da vida, as correntes que me prendem às mãos do inescrupuloso “Senhor dos Fantoches”, às formalidades meramente elaboradas e transmitidas incessantemente. E aquela sensação familiar, construída sob os resquícios de novidade, que dispara alarmes silenciosos durante o jantar das diferenças, e, quem sabe, haverá um fim para todas essas imposições, comportamentos mecânicos, lares desfeitos. O lápis esquecido na mesa da escola, as escadas que levam para o desconhecido, as heranças de vidas que não se completaram e a pretensiosa vontade de escrever sobre isso. Puro investimento em negócios impróprios. O crepúsculo das ideias e a incoerência desmedida.

Por Vitor Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário